Monday, December 29, 2008

MELHORES DE 2008: CINEMA

PARA MIM, UM ANO DE POUCOS FILMES INTERESSANTES. LISTO ALGUMAS EXCESSÕES.


CHRIST IN CONCRETE - Edward Dmytryk (1949) - Um dos poucos e raros expoentes do realismo social americano. Dmytryk, na época um dos 'ten list' macartista, adapta a novela de Pietro Di Donato acerca da realidade urbana dos imigrantes italianos que trabalharam na construção civil e criação das grandes métropoles americanas, quiçá novaiorquina . A pontuação das tempestades espirituais dos personagens é filtrada por elementos do cinema noir e das vanguardas históricas do pós-guerra.




SUNA NO ONNA - A MULHER DA AREIA - Hiroshi Teshigahara (1964) - Uma violenta alegoria sobre a alienação humana e nossa incapacidade de mudarmos nossa rotina existencial. Um entomologista fica preso numa cova de areia onde reparte a solidão com uma estranha e hipnótica mulher. P&B aveludado e enquadramentos estilizados e cirúrgicos. Um dos pilares da new wave japonesa dos 60´s.


D.O.A. - Rudolph Maté (1950) - Low Budget Noir sobre a desesperada - e inusitada - procura do assassino pela sua potencial vítima, envenenada e ludibriada numa sórdida barrafunda de crime, jogo de interesses e dissimulação. Grande estréia do fotógrafo Rudolph Maté.




FASCINATION - Jean Rollin (1979) - Obscuro e naïf, Rollin se esquiva do encadeamento fragmentado surrealista/psicodélico dos longas anteriores e nos mostra uma história simples, poética e fácil de assistir. Briggite Lahaie e Franca Mai seduzem homem num ritualístico banquete vampírico. Ao lado de Jess Franco, Rollin é uma pérola bruta a ser redescoberto.


QUI ÊTES-VOUS, POLLY MAGGOO? - Willian Klein (1966) - Ácida crítica aos totens e aos ícones da indústria da moda. Aventuras de Polly Maggoo, modelo belíssima, sem rosto, escondida sob máscaras sociais (cuidadosamente despida por um documentarista), noiva de um princípe, felliniana e pasteurizada. Willian Klein, ex-fotógrafo da Vogue, cria um momento único da Paris 60´s. Preste atenção ao nome Isidore Ducasse creditado no início da película.

Sunday, December 28, 2008

MELHORES DE 2008 - MUSICA


FAWN - Slumber Party Massacre (2008 - myspace.com/fawnisdead) - New Gazer da cracknation records. Jason Novak (Dj Acucrack, Acumenation), healiner e fundador da gravadora de Chicago mistura testurizações harsh noise com guitarras fuzz e vocais etéreos. Destaque para Regeneration.




THE SCANDALS - The Remixes 2008 Vol 6 (2008 - Pale Music Int www.myspace.com/scandalsberlin) - Rapinagens eletropunk da dupla mais underground da Alemanha. Nada fica de fora: Dark Ambient, House, Punk, Noise Guitars. Personagens representativos da cena indie já deram as caras em seus remixes. Pink Grease, Atomizer, Marc Almond, Miss Yetti, The Gods of Blitz, Ascii.Disco and Eric D. Clark.




ATTACK OF THE 88ft CUBAN - SPLIT SUPER 88 / RED ZONE CUBA CD-EP (2008 - redzonecuba rec) This fantastic split EP landed on my door mat this morning featuring 2 best Dutch underground bands at the moment. 6 trashy rock'n'roll tunes - 50s, 60s, 70s, blues, surf, hard rock, punk and more. Great fun. I just love these guys! You can hear that they are 100% into music they play, that they like it and enjoy it. Super 88 play Red Zone Cuba cover + super crazy MC5 - Rambling Rose cover with mad vocal. Red Zone Cuba starts with mindblowing cover of Super 88 "Fussball Baby", followed by 2 superfurious and manic tracks. Also compliments for great sleeve. I really can't believe these 2 bands still have no proper release. Shame on all labels, specially Dutch ones - including No Brains Records (with not enough money in the piggy bank).




REVEREND BEAT-MAN - Surreal Folks Vol 2 (2008 - voodoorhythm rec) O fundador do selo Voodoo Rhythm e frontman da garage band the Monsters está de regresso, entre entusiásticas rezas de blues trash, primitive rock´n´roll e fusões explosivas de garage-punk, estão presentes as raízes mais que tradicionais do country, rockabilly e gospel-blues, que capturam na perfeição o espírito deste "one man band", "Surreal Folk Blues Gospel Trash Vol. 2" é o seu melhor registo até agora.


TOUGH AND LOVELY - Teardrops (2008 - Spoonful Rec)
Os Tough & Lovely neste segundo longa duração apresentam-nos combinações que se situam entre o áspero e o melódico, vocalizações dinâmicas, melodias "off-beat garage", muitas vezes próximas do "garage-soul", em Teardrops trazem-nos tudo isto, sendo que o mais impressionante é a simplicidade a força e a veracidade com que são interpretadas e foram escritas, grande disco.

Thursday, December 25, 2008

DEVIL GIRL FROM MARS









Sendo um dos filmes britânicos sci-fi dos anos 1950 com mais hype, Devil Girl from Mars (1954) é também um dos mais singulares B Movies da Guerra Fria. Inserindo-se na 'resposta' aos numerosos produtos B americanos da época, o filme de David MacDonald parece 'correr' exatamente na direção oposta, não induzindo o medo do 'outro' através de uma ameaça bélica, onde podemos rever o mal que aparentemente estaria do outro lado da 'cortina', mas parece mais preocupado no fato de que os costumes tradicionais do pós-guerra estariam avançando para uma forma mais liberal de sociedade. Aqui a figura demonizada não é qualquer monstro verde de Marte, mas uma bela e enigmática marciana com tendências de dominação e S&M, vestida com um capote de vinil preto, e com uma generosamente pequena mini-saia, que fez a viagem ao planeta Terra para capturar espécimes masculinos em falta num planeta onde as mulheres ganharam a guerra dos sexos. E é esse o termo ('Guerra dos Sexos') usado pela 'frígida' Nyah (a marciana, interpretada por Patricia Laffan) ao explicar as suas razões a um pequeno grupo de clientes de uma modesta parada na landscape deserta da Escócia, enquanto exibe um tosco robô, que parece ser apenas mais um gadget para esconder as intenções conservadoras do filme. Um pecúliar documento sci-fi retrô com contornos morais que o atiram para o mais irresistivel camp, Devil Girl From Mars mostra em todas as suas contradições temáticas e pequenos apontamentos de melodrama (algo desajustado do tema principal), a resistência conservadora a novos valores socias, demonizando-os de uma forma extremamante hilariante (parecendo um filme patrocinado por qualquer seita critã pentecostal), e tornando-os ambiguamente fetichistas e apelativos. Sendo quase o equivalente britânico de Plan 9, nem é preciso dizer que este é um filme para descobrir ou rever.

TRILHA SONORA NATALINA







GLEN OR GLENDA




Glen (Edward D. Wood Jr., ou Daniel Davis como é creditado) encontra-se num impasse que poderá marcar a sua vida para sempre: revelar que só é feliz quando se veste de mulher ou tratar tal 'doença' de forma a poder casar e ter uma vida 'normal' com Barbara (Dolores Fuller)?Um dos maiores documentos do camp (involuntário?) no cinema, Glen Or Glenda (1953) é a mais bizarra obra daquele que seria mais tarde alcunhado - erroneamente - como o pior realizador da história do Cinema e aquele que foi um dos últimos verdadeiros exemplos do exploitation no Cinema americano (refiro-me aqui claramente às séries de 'documentários' que proliferaram por toda a 'paisagem marginal' do cinema entre as décadas de 10 e 40 do século passado). Mas mesmo tentando ainda situar-se num lado 'informativo', Glen Or Glenda possui já o core do que é de fato sexploitation, um gênero que apenas se 'assumiu' nos 50s como cinema de 'autor' nos EUA, bem mais 'assanhado' e com motivos bem mais expostos. De resto, algumas das mais bizarras imagens deste filme, misturando o teor auto-biográfico de algumas das sequências com uma perspectiva 'documental' dúbia e mais ousada que os documentos exploitation anteriores, parece já anunciar um emergente gênero (o sexploitation), bem mais orientado para uma perpectiva de autor, que Wood aqui é um dos pioneiros. Tentando explicar (explicar-se) a questão sexual com que mais pessoalmente se identificava, Wood mistura nesta comédia involuntária o filme científico e conteúdos com tendências 'educativas' e 'morais' da primeira vaga do exploitation (na altura já ultrapassado devido à já emergente e mais acessível indústria cheesecake e soft core) com alguns stag films a ilustrar outras 'perversões' socialmente mais condenáveis, possivelmente incluidos no filme pelo produtores (a Screen Classics, uma conhecida produtora exploitation da época), de forma a gerar mais interesse nos patronos da bilheteira, pouco interessados em ver Wood de peruca louca e salto alto a espreitar casacos de pele. Com encenações bem primárias e representação amadora e rígida (como ditava o canon deste fascinante género cinematográfico), Glen Or Glenda entrega uma visão pessoal do realizador sobre a questão, tentando exorcizar os seus fantasmas, e que culmina com a cena imortalizada no cinema mainstream no poster de Ed Wood de Tim Burton marcando o conteúdo moral do filme, afirmando que o amor conquista qualquer adversidade convivencial, mesmo aquelas de Wood padecia e que o fez gerar, com um entusiasmo conhecido, um dos mais fascinantes (e influentes, diga-se) documentos cinematográficos dos anos 1950.

Tuesday, December 23, 2008

FRANÇOISE HARDY
















LOVELY 60s GIRLS
















LOVELY 60s GIRLS
















Monday, December 22, 2008

LOVELY 60s GIRLS










Wednesday, December 17, 2008

MARGINAL







O cinema marginal, como escola de cinema nunca me interessou. Nada de regras ou margens, limites e fronteiras. Apaixonei-me pelo cinema e especificamente por este cinema não por ele estar à margem, mas por estar além dela, longe das estradas de mão e contramão. Os caminhos do cinema são todos os caminhos, mas os que me agradam são tridimensionais. Aprendi com estes filmes e com esses realizadores a duvidar do mainstream, a rir das nossas impossibilidades, a fazer acontecer apesar delas. E a viver, sem ditaduras (da beleza, da coerência, do talento, da grana). Escracho, desespero, o que for, perdem para mim o sentido quando teorizados. Jairo Ferreira é o homem chave, pois registrou, atuou, pensou, sentiu tudo de dentro, câmera na mão, falível e exuberante. Cinema de Invenção, o livro, dá a cara do movimento. Suas apostas e certezas não são demonstradas, mas compartilhadas. Elas existem e estão ao alcance da mão. As idéias ali contidas resplandecem sem ser inatingíveis, ao contrário, faça você mesmo - o atualíssimo lema do punk inglês - é o que está estampado a cada imagem. Cinema de invenção e de generosidade, que não se envergonha nem esconde seus defeitos. Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Triunfo na derrota, porque não? Meu contato com estes filmes e com seus artífices começou numa mostra do Cinema de Invenção bancado pela Secretaria de Cultura de São Paulo; eu vendo os filmes e devorando o livro. Jairo, Carlão, Calasso, Candeias, Rogério, Ebert, Mojica, Tonacci, Callegaro, Bressane... O cinema marginal é real, existe, é seu vizinho ou está dentro de você. Esqueça os pedestais, o glamour, as mulheres de revista. O mundo tem cheiro, é palpável. Goze com ele, experimente seu venenos, quebre-o, olhe-o pelo avesso. O mundo é maior do que querem nos fazer crer, e essa grandeza não oprime pois nela cabem nossas fraquezas e nossos sonhos. As leis são falsas e existem para ser burladas, assim não fossem não seriam leis. Não há lei além de ´faze o que tu queres (Crowley). Filmes em trânsito, pessoas em trânsito, idéias em movimento. O cinema mais libertário nascido no ventre do mercado, boca do lixo. Irmanado no respeito à diferença e na dedicação à anarquia. Hoje, quando ouço falar em diversidade, dou de ombros. Diverso era o Cinema Marginal, que tinha a erudição de Carlos Reichenbach, a genialidade de Sngazerla, a militância de Jairo, a impetuosidade do Candeias, a popularidade do Mojica Marins. Nossa diversidade atual é a da caixinha de queijos pasteurizados: gorgonzola, provolone, emmenthal, todos com o mesmo gosto. Mas vamos sair dessa vala comum. Ou não? As vezes penso que essas pessoas e esses filmes já não cabem nos dias de hoje, dias de pragmatismo e conformismo exacerbado. Mas é certo que ervas daninhas e arvores fortes e teimosas racharão o concreto desse cinema palatável das leis de incentivo, pois o ímpeto não morre (como as baratas, que resistirão à nossa imbecilidade bélica e financeira). Pois ai estão os filmes, sobreviventes do massacre artístico imposto a seus realizadores, exilados em seu próprio país, impedidos de exercerem sua profissão, calados numa censura covarde que não ousa dizer seu nome: falso mercado. Poucos criaram estruturas que lhes permitissem seguir filmando (como Reichenbach e Bressane, cada qual a sua maneira), mas a imensa maioria não se adaptou e foi, de modo cruel, confinada à margem. Se o cinema é um campo de batalhas (e é), nos últimos meses tivemos baixas cruciais no front de resistência da Invenção. Primeiro perdemos Jairo Ferreira, o crítico, cineasta, militante que deu na carne o exemplo máximo de coerência e irredutibilidade, colocando-se acima do conforto, do dinheiro, das convenções, das classes sociais, da própria fome. Encarnação árida da liberdade, sem receio de pagar o alto preço cobrado por ela. Em seguida foi Rogério Sganzerla, o visionário exuberante, autor revolucionário vítima da reação violenta à sua genialidade precoce. Como ele mesmo sentia, nunca lhe perdoaram tamanha destreza, precisão, criatividade, capacidade de realização. Tentar reduzi-lo a criação brilhante de O Bandido da Luz Vermelha e A Mulher de Todos é sinal da nossa limitação dramática na apreensão e desfrute estético. Com seus dois primeiros filmes, Rogério foi colocado num infame pedestal forjado como tumulo (Mojica, outro visionário, seguia sonhando e filmando suas histórias de pessoas enterradas vivas). Por fim, deixou-nos o grande libertário da montagem cinematográfica (e parceiro de universo de Sganzerla), Sylvio Renoldi. Intuitivo e certeiro, Jairo Ferreira já o apontava como outro gênio por trás da exuberância do Bandido. Renoldi atuou em diversos filmes (O Bandido, O Pornográfo, As Libertinas, O Profeta da Fome), e nunca se restringiu a escolas ou gêneros. Além desses, comandou o ritmo de títulos tão dispares quanto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, O Homem Nu e Lúcio Flávio: o Passageiro da Agonia, para ficar em poucos e representativos filmes, marcos da história do nosso cinema. Montou westerns, comédias filmes eróticos. Sabia que estava acima de rótulos, como todos estamos. E exerceu sua atividade deixando a lição do experimentalismo e o brilho de seu talento. Dessas pessoas a quem tanto devemos, fica a memória viva da presença sempre iluminada. E ainda os filmes, para ver e rever, inquietos e inevitavelmente explosivos. Para além dos que aqui citei por maior afinidade, inúmeros outros estão por ai cumprindo sua sina de artistas, antenas, profetas, magos. O cinema é uma ferramenta fantástica para o conhecimento e a libertação, mas não a única. Aproveitemos esta oportunidade para olhar nestes filmes como a vida corre pulsante, sem freios. Vejam como se encaixam perfeitamente neste mundo cada defeito, cada fracasso, e como é possível e maravilhoso viver contribuindo com cada um de nossos erros à divina comédia humana, esplendorosa na força de seu mistério

ENCONTRO DE SÁDICOS




O valor de um filme em segmentos realizados por diferentes cineastas depende, naturalmente, da qualidade isolada de cada um desses segmentos. Retomando uma tradição que proliferava no cinema europeu dos anos 50 e 60, Takashi Miike, Fruit Chan e Chan-wook Park, respectivamente japonês, coreano e chinês, juntaram-se para um filme em três episódios, denominado "3…Extremes", que, forçosamente, não foge à regra. É, em essência, esse o fator que o torna um filme insatisfatório. A taxa alta de morbidez e de inventividade temáticas, raros são os objetos equiparáveis a "Dumplings" (perdoe-se o esquecimento da tradução português), concebido por Fruit Chan. Uma atriz no caminho do envelhecimento dirige-se a casa de uma habitante de um bairro periférico para experimentar os seus bolinhos, conhecidos pelo seu efeito rejuvenescedor. A habitante é também 'abortadeira', usando os embriões como principal ingrediente dessas iguarias… É importante lembrar que este foi o único episódio transformado pelo seu autor em longa-metragem. Tal é notório pela forma sintética como a ação é mostrada, deixando antever mais do que é mostrado, mas interfere com a qualidade do filme. Pela amostra dada, diga-se que parece estar-se perante um objeto sólido mas algo acadêmico, de uma escatologia e de uma violência visual inolvidáveis (vale conferir a cena do aborto de uma jovem violada pelo seu pai). Se cobrássemos tributo pela estilização cinematográfica, Chan-wook Park já tinha acabado, sozinho, com o déficet das nossas contas públicas. Assim o prova "Cut", desgarrada história de um figurante que rapta o seu realizador fetiche e a esposa deste, como vingança pelo estado miserável em que a sua vida se encontra, especialmente quando comparada com a próspera vida do realizador. Chan-wook Park é um esteta, e isso nota-se à distância, pela ação que decorre num set cinematográfico e pela abundância cromática da sua curta-metragem, onde, cenograficamente, o xadrez do chão convive com o azul escuro das paredes. Mas "Cut" destaca-se pelo sadismo na relação de Park com as personagens, de que são exemplos o esquema para imobilizar a esposa do realizador, bem como os dedos que a esta são amputados, de uma forma quase burlesca. Quando o rapaz que se senta no sofá, parte mais misteriosa do enredo, exclama “Vou-me vingar!”, o espectador conhecedor do cinema do coreano não pode evitar sorrir… De Takashi Miike, o respeito pela obra anteriormente vista impede grandes elaborações. História de confronto familiar e de pesadelo, perde-se num estilo pretensamente poético, meio enganador e meio fútil. Foi este o realizador que nos deu o soberbo "Audition"? Custa a acreditar. O balanço é simples: Park pulveriza os outros dois, e mostra ser um dos mais estimulantes realizadores recentemente descobertos. O seu segmento, dos melhores momentos de cinema extremo trouxe, só não sofre com as curtas-metragens que o rodeiam porque demonstra mais audácia, imaginação e ideias que noventa e nove por cento das longas-metragens que por aí andam. "3…Extremes" é Cut e o resto é paisagem.

Saturday, December 13, 2008

PSYCHOCANDY



No ano de 1985, uma nova variedade de doce foi lançada sob o nome de Psychocandy. Suas referências sonoras eram antagônicas na época – de um lado o ruído ensurdecedor, a microfonia e o barulho em sua forma mais brutal; do outro, a melodia, sessentista, nostálgica, docemente sussurrada. E o imaginário que suas letras pintavam era insólito: uma relação estranha e inédita entre rock e religião submetida a um ar ao mesmo tempo blasé e violento, uma mistura estranha entre poeta e caubói.
Hoje, vários discos depois do gênesis de sua bíblia, é fácil entender o Jesus. São escoceses que enxergam o rock como uma nova versão do cristianismo, Velvet Underground e Beach Boys pagando tributo ao mesmo Cristo – Elvis Presley. Sacerdotes de sua própria religião, o Jesus usa a guitarra como missa e todo o barulho que ela pode fazer como uma forma de resgatar os princípios básicos da comunhão com o senhor – a rebeldia, o inconformismo, o anti-status quo. A microfonia é só o latim – a língua em que a religião soa melhor. A Santíssima Trindade é formada por três acordes que, dispostos da maneira correta, como uma oração, permitem a entrada de qualquer canção – qualquer uma, não importa. "A religião é só uma forma de você refletir o que você representa", explica Jim Reid em entrevista por telefone ao 1999, "criando santos e demônios para representar o bem e o mal, que você pode escolher. Escolhi falar do rock porque ele é muito mais próximo de mim que santos e demônios". E por rocker eles entendem uma figura meio poeta, meio caubói, sensível e durão que, como eles, podem improvisar um rock básico apenas arrancando frases a esmo de um livro de William Burroughs. Uma pessoa que era produto de "uma revolução de amor que se tornaria uma religião de amor", como escreveu Jack Kerouac, o "novo herói americano, representado pela tríade James Dean/ Marlon Brando/ Elvis Presley – a imagem da própria piedade". Por isso, o ar arrogante – pena disfarçada de orgulho.
Não no formato barrinha, mas no formato bolachinha (de vinil). Logo virou febre entre os mais atormentados adolescentes ingleses. A banda era o Jesus & Mary Chain, sensação recente no Reino Unido por já ter lançado quatro outras delícias no formato single: Upside Down, Never Understand, You Trip Me Up e Just Like Honey. Psychocandy era um doce de difícil digestão. Trazia uma base baixo-bateria estável e no volume 2 e uma camada de guitarras e microfonias completamente noise no volume 10. Era o que muitos chamaram de absurdo! A banda dos irmãos Reid (Jim, vocal, e William, guitarra) com Douglas Hart no baixo e Bobby Gillespie (que depois criou o Primal Scream) na bateria foi recebida de braços abertos pela crítica inglesa. Só faltava o público mundial. A Inglaterra, fiel, ouvia Jesus, mas o mundo ainda não os conhecia.

IN MEMORIAN




Bettie Page
Abril 22/1923 - Dezembro 11/2008