A perda da inocência infantil perante a violência e o desejo sexual dos adultos mediante um simbolismo abertamente freudiano, repescando todo o simbolismo dos contos infantis e o folclore Eslavo, num turbilhão simbolista que transpassa o onirismo surrealista. Tais qualidades, presentes na obra literária homônima do escritor surrealista Vítězslav Nezval, dão a este filme um sentido literário de 'crossover' entre Nosferatu de Murnau e Alice in Wonderland (tal como no livro de Nezval), transpostas por Jires numa luxuria de imagens de qualidade etérea poucas vezes sentida de forma tão imaginativa no cinema europeu dos anos 1970. Valerie and Her Week of Wonders, ainda considerada uma das pérolas mais obscuras do cinema europeu dos anos 70, conheceu até à poucos meses, uma única edição europeia em DVD, lançado em 2004, da label exploitation Redemption (que inicialmente o lançou-o em VHS, encaixando-o no seu catálogo exploitation como um teen exploitation bizarro), que ajudou a criar algum culto. É de resto conhecida a influência que o filme teve junto de Neil Jordan para fazer o aclamado The Company of Wolves e, também, que o projeto paralelo dos Espers, The Valerie Project tem como ponto de partida o filme e a espantosa trilha sonora que o acompanha.
Tuesday, May 22, 2007
Friday, May 11, 2007
JOSIE E AS GATINHAS FROM HELL
Tal qual um Robert Altman on acid, Russ Meyer reúne, sob a sombra de uma Hollywood Babylon, um caleidoscópio psicodélico que mistura no mesmo balaio Freaks, Liquid heads, Hippies, Gays, Psicopatas, Hermafroditas, Nudez, Sexo Drogas, Garage bands, Pop art, Playmates, Playboys desenganados, Blood gore, piadas infames, diálogos absurdos, e uma paleta de cores saturadas absolutamente fantástica! Se há a real intenção de transfigurar ironicamente esta salada contracultural em um microcosmo da América conservadora, não sabemos. De Volta ao Vale das Bonecas (Beyond The Valley of The Dolls, 1970) trata da história de uma banda pop psicodélica feminina - The Carrie Nations (onde a vistosa Dolly Read, ex-coelhinha playboy 66, canta, sussurrando) - , cuja ascensão é a cervical por onde trafega uma miríade de personagens tão infames quanto anárquicos e bizarros. A marcação contínua dos clichês de gênero – do sexploitation ao melô mais cara-de-pau - se alterna com a imprevisibilidade do roteiro e rumo inesperado dos personagens. Facilmente se identifica os medalhões da contracultura 60´s: o empresário mal caráter e diletante das artes (Z-Man/Andy Warhol/Phil Spector?), mocinhos bem comportados, atrizes pornôs, gurus maconheiros, etc. A edição tupinambá, dupla, similar à gringa, é bem cuidada, com vários extras, todos com opção de legendas em português. Acusa-se a ausência de John Waters nos extras, comentando – e agradecendo – estas vibrações. Mas, de qualquer maneira, vale a pena enfiar a mão na algibeira e pagar apenas R$ 25 (!) pelo DVD.