Thursday, July 15, 2010

PINK EYGA

Sex & Fury, os subprodutos advindos do momento pink violence, e também às diluições televisivas que esse cinema rendeu nos Estados Unidos, motivaram uma corrida aos antigos VHS. Ora, tanto Norifumi Suzuki quanto Sergio Leone – sabidamente o realizador preferido de Tarantino – fazem parte do momento crepuscular do cinema de gênero, nume época em que esse cinema passava a remeter imediatamente não mais ao mundo, mas às figuras tornadas clichê do próprio cinema. A chave era reinvestir a imagem com tipos já conhecidos do espectador, fazendo com que o interesse principal do filme circulasse em torno do estilo, da mise-en-scène e do poder icônico da imagem (outro preferido de Tarantino, Brian De Palma, é o principal responsável por essa virada dentro do cinema americano). Passada a tábula rasa dos anos 1980, quando uma nove tentativa de acesso ao real se perde num total chororô da perda de referência e da crença (Wim Wenders, morte do cinema, etc.), é necessário retornar aos velhos clichês para reconstruir um cinema que fale sobre o cinema e que, mesmo em detrimento de uma certa preocupação profunda com o real, faça voltar um culto de adesão à imagem que consiga criar diferença no mundo de hoje.




Dito tudo isso, Sex & fury cumpre à risca e excepcionalmente seu projeto. O filme devolve à imagem toda a capacidade de fascinação que pode ter, agregando a ela toda uma miríade de referências acavaladas cuidadosamente uma atrás da outra, sejam os filmes de Hong Kong (Chang Cheh, mas também King Hu e Ching Siu-tung), seja o cinema de animação japonês (anime), sejam os westerns italianos (através da trilha sonora). A referência funciona em chave afetiva-conceitual mais do que narrativa, e é dessa afetividade que extraímos o conteúdo positivo do filme. Suzuki expõe apaixonadamente em primeiro plano todas as suas obsessões estilísticas, e do poder evocativo e deliberadamente excessivo dessas imagens nasce nossa própria paixão pelo filme. Ele ama seus artifícios estilísticos da mesma forma que os pintores uma vez amaram suas musas (suas cores, como os escritores amam a cor da tinta sobre o papel branco.

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