Monday, March 19, 2007

PRE CODE HOLLYWOOD



Existiu um pequeno período na história do Cinema americano onde as regras de censura que definiram o chamado 'periodo clássico' (1935 até aos anos 1950) pouco foram cumpridas, um ato de rebeldia 'punido' através de um código rigoroso posto em prática por Joseph Breen (baseado no conhecido código Hays) que foi introjetado pelos estúdios que o adaptaram não para se auto-censurarem mas para criarem uma maquina coorporativa que ainda hoje tenta destruir qualquer oposição. Pre-Code Hollywood: Sex, Immorality, and Insurrection in American Cinema, 1930-1934, de Thomas Doherty é um dos mais interessantes relatos desta época, debruçando-se sobre a evolução do sistema de estúdios, que reinava livre no escuro do cinema, sem preocupações em mostrar conteúdos moralmente condenados por um emergente conservadorismo de contornos religiosos e fundamentalista; os mesmos que atualmente comandam de forma hipócrita o destino dos EUA, e que, através da Grande Depressão, conseguiu moldar toda a máquina do 'fazer' cinema até aos dias de hoje. Doherty não faz só uma fácil listagem dos vários gêneros que nasceram ou floresceram nesse período (Vice films, filmes de Gangsters ou as comédias 'libertinas'), mas consegue também encontrar a gênese do cinema de intervenção política (antes da infame caça às bruxas que debilitou o gênero até aos finais dos anos 60), e aventurando-se ainda pelos terrenos dos Newsreel e do 'cinema de expedição', a semente do exploitation e pseudo-documentário Mondo, numa viagem fascinante à psique pop americana. Pre-Code Hollywood é um documento completo da época em que a cultura popular americana ainda caminhava livre e pouco moldada às considerações morais. Ademais, do ponto de vista sociológico, mutatis mutandis, o livro apresenta-se como um significativo documento da decadência dos valores agregados às liberdades individuais americanas.