Sunday, November 02, 2008

WHERE THE SIDEWALKS ENDS





No seu primeiro 'combate verbal' durante o filme, o duro detetive Mark Dixon (Dana Andrews) tenta interrogar com os seus métodos particulares o seu eterno inimigo Tommy Scalise (Gary Merrill), recebendo de volta as linhas de diálogo que dão nome a Where the Sidewalks Ends (1950). Este curto e brusco diálogo é de resto finalizado próximo ao final do filme, criando uma 'suspensão', durante a qual a narrativa desvela que entre as alturas morais das forças policiais e da law enforcement e o submundo perfído de Scalise, sempre nas sombras, a diferença será apenas na 'iluminação social' e não na moralidade. Poderá não ser o melhor momento da carreira de Otto Preminger, ainda na 'ressaca' do sucesso da sua primeira obra-prima (Laura de 1944), mas Where the Sidewalks Ends é um dos filmes contidos num período entre 1945 (ano do 'fetichista' Fallen Angel) e 1952 (com Angel Face, com Robert Mitchum), onde o realizador definiu de forma definitiva os canones do Film Noir, reformulando as anteriores influências para criar um gênero realmente americano, se tal poderá ser afirmado. Relativamente esquecido (e antecedido do grande Whirpool, também com Gene Tierney), Where the Sidewalks Ends é no entanto um dos filmes centrais de Preminger, sendo uma ponte entre o êxito do estranho conto necrofílico de Laura e o noir de rigeur do já citado Angel Face. Revolvendo, como em quase todas as obras do realizador nesse período, na sensação de confusão - e culpa - que as suas personagens sentem devido à não separação entre o 'dever profissional' ou moral e a obsessão mais primária e obscura (não será em vão o uso novamente da palavra fetichismo para descrever alguns dos comportamentos de Dana Andrews neste filme), Where the Sidewalks Ends torna-se no entanto simplista na forma em como são conduzidas as personagens durante o filme, para depois 'explicar' a sua estranha linearidade com uma frágil carga de redenção que Mark Dixon tenta carregar, negando o seu 'batismo de rua'. E são mais esses momentos finais e não tanto um denso jogo de investigação, que 'reabilitam' o filme, fazendo entender as complexidades das personagens. Mostrando de forma inequívoca o gênio criativo de um dos maiores realizadores americanos de sempre, que sempre soube aproveitar os poucos recursos (tal como muitos dos seus 'irmãos' no film noir) para fazer algumas das maiores obras dos 40´s e 50´s, este será um daqueles noir que, mesmo parecendo superficial e sendo talvez o mais 'temperamental' das obras do realizador neste período, deverá ser redescoberto na excelente obra de Preminger.

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