Friday, January 12, 2007

VAMPYROS LESBOS


Por pertencer a vertente marginal do gênero em sua época, merece ser aclamado o lançamento no Brasil - via Continental home vídeo - de Vampyros Lesbos, a opus magna do infame avatar do deboche dionisíaco, o espanhol Jess Franco. Esta inebriante bad trip psicodélica, embalada por um lirismo homoerótico de aguda frieza, situa-se algures entre os devaneios precoces de Buñuel em "le age d'or", com o sexploitation de Andrei Bianchi, as lisérgicas trips da AIP, sob o comando de Roger Corman e o olhar arguto de Samuel Arkoff, e o gosto do rigor mortis sempre presente nos momentos "gore" do eurohorror.O filme retrata a profunda lassidão no encontro lésbico de uma vampira que odeia homens e ama todas as mulheres (a mítica Soledad Miranda) e uma advogada reprimida (Ewa Strömberg) pelos meandros do sexo estilizado e dos devaneios pessoais do diretor Jess Franco, cujo equilíbrio delicado - entre a genialidade e a total falta de recursos materiais, - valoriza, em tom iconoclasta, a volúpia da carne dos seus personagens e a beleza de suas mulheres. Citações de Sheridan le Fanu e uma ambivalência onírica casam perfeitamente com o erotismo subjacente da história e valoriza o estilo etéreo de Franco, que trilha uma linha bastante tênue entre um trabalho de visionário voyeurismo e uma viagem de ácido de execução amadora e assumidamente lowbudget.A desconexão narrativa proposital não permite uma impressão completamente certa do que é ou não realidade dentro da história, e este é um desafio que muito provavelmente o diretor não idealizara para a sua platéia. O aspecto intrinsecamente surreal e a sensação de desnorteamento vêm em sua maior parte da edição difícil, um reflexo indireto dos parcos recursos de produção do filme.