Friday, September 14, 2012

UM CONDENADO A MORTE ESCAPOU


O Condenado a Morte escapou. Não é uma constatação, já não é o final do filme, mas seu título. O título não encerra o universo em si, nem atrapalha seu suspense solitário. O universo de Bresson, o universo dos seus filmes tem a capacidade de solicitar sempre uma transcendência, como se os seus personagens, muitos egressos da literatura dostoievskiana, outros tantos saídos da obra do pensador católico George Bernanos, sacrificassem e irrompessem os diversos materialismos que os cercam e aprisionam para conseguir, ao fim e ao cabo, a redenção e, por conseguinte a liberdade, se não do corpo pelo menos do espírito. Para tanto, despoja seus personagens e seus atos – mas também seus cenários e ações - ao mínimo lapidar, sem espetáculos e sem excessos. O motivo mais explicito para a interpretação minimalista é o abandono da idéia de que a arte cinematográfica é “prima-irmã” do teatro, mas sim seu antípoda. O estilo rigoroso de Bresson elide a afetação teatral de seus antecessores, criando a linguagem do “Cinematógrafo”. Todas as tarefas feitas pelo condenado no silencio da noite, na escuridão de sua cela, lascando madeiras, afiando colheres - com vistas a obter um instrumento que possibilite cavar buracos – nos possibilita ver a fuga como a única transcendência, como a única chance de vislumbrar um aceno de Deus, além do paradoxo da prisão como liberação  - “Constatei que o ritmo das imagens não tem o poder de corrigir toda lentidão interior. Só os nós que atam e desatam no interior dos personagens conferem ao filme seu movimento” -, tudo isso pulsando e revelando a face mais sincera desse diretor sempre tão fiel a si mesmo, tentando encontrar a lucidez das tragédias gregas no desalento e no pessimismo suicida de seus personagens.

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